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Jornalista adora número. Quando se trata de estatística, faz logo uma comparação com o ano anterior. Se for altura, equipara logo a um prédio residencial. Se for medida de espaço, vamos imaginar em quantidade de campos de futebol. Se for prêmio da loteria, daria pra comprar quantos carros populares?

Talvez esteja aí a raiz do problema. Ninguém mais liga para os números.

Estamos desde o início de 2020 ouvindo sobre a Covid-19. Números na Ásia, de repente na Europa. Espanha e Itália em desespero. Em pouco tempo, como um tsunami que tudo arrasta, chega à América incrédula. No Brasil, nada surpreende. Todo jornal tem tabelas, cartelas, gráficos…tudo pra se fazer compreender e não parecer pesquisa eleitoral, daquelas com margem de erro para mais ou para menos. Afinal, se trata de uma doença nova. Um vírus altamente contagioso e ao que indica, mortal.

Mas números, são matemática. Na cabeça de muitos, “ah, quando chegar na família ou em alguém próximo, vai entender”. Não. Não entendemos.

Os jornais precisaram reinventar novos formatos. Fulano está em estabilidade, crescimento ou baixa. A média móvel não oscilou.

Não adianta. O brasileiro em geral, é acostumado a números ruins e acostumado a não se assustar.

O IDEB, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, é um cálculo feito com base em dados de aprovação nas escolas e desempenho dos estudantes em matemática e língua portuguesa a cada dois anos. Tudo pra saber se o aprendizado das escolas públicas e particulares estão em evolução. Para cada instituição de ensino, uma meta. O ensino médio brasileiro não atinge a meta desde 2013.

As tabelas do Inep (Instituto Nacional de Ensino E Pesquisa), responsável pelo IDEB, gritam as desigualdades regionais e nomeiam as escolas que pedem socorro.

Detalhe, os números divulgados neste ano são referentes às notas de 2019. Não precisa ser matemático pra avistar índices ainda mais medíocres pós-pandemia.

Os números da violência doméstica são igualmente preocupantes. Os dados do Monitor da Violência, Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, registraram aumento de feminicídiosno país. Só no primeiro semestre de 2020, 1.890 mulheres foram mortas. Em Roraima, o aumento de casos de lesão corporal no contexto de violência doméstica no mesmo período foi de 32%.

Em miúdos, 387 mulheres apanharam dos maridos ou companheiros em Roraima.

Isso pode explicar os atendimentos do Zap Chame, serviço via aplicativo de mensagens disponibilizado pelo Centro Humanitário de Apoio à Mulher da Assembleia Legislativa. Quase 400 mulheres buscaram ajuda, em 7 meses.

O Brasil possui dados de todas as áreas e são divulgados por instituições sérias, IBGE, Ministérios, Secretarias de Estados e Municípios, Universidades, cabendo à imprensaa leitura e tradução dos números para o grande público. Mas em alguma fase do caminho há uma falha. O gatilho principal não é ativado. Tudo fica naturalizado. Esses números servem de quê?

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