A Prefeitura de Boa Vista vai tentar implantar novamente o programa que ficou conhecido como “Iti Malia”, na administração passada de Teresa Surita (MDB), visando castrar cães e gatos abandonados nas ruas da Capital, mas que não emplacou devido a erros grosseiros, como a falta de orçamento para pagar valores reais para as clínicas veterinárias.
O problema é que o novo prefeito, Arthur Henrique (MDB), recai no mesmo tropeço de sua antecessora. Novamente ele não ouviu a sociedade, especialmente as entidades que trabalham no acolhimento desses animais e as clínicas particulares, que durante anos pagam o ônus pelo serviço que eles realizam de forma voluntária sem ajuda do poder público.
Na administração passada, os animais eram sacrificados no Centro de Zoonoses por falta de estrutura adequada para acolher, acompanhar e tratar cães e gatos recolhidos, além de encaminhá-los para adoção. Devido a esse grave erro, que tornou aquele órgão em uma carnificina, a Prefeitura foi obrigada judicialmente a estruturar o órgão e também elaborar mensalmente estatísticas sobre os animais ali recolhidos.
Outra vez, sem ouvir as partes envolvidas, a Prefeitura tenta se livrar de suas responsabilidades, ainda que tenha gastado dinheiro público com reforma e aquisição de veículos, no Centro de Zoonoses, jogando a responsabilidade de seu trabalho para as clínicas e hospitais veterinários particulares, que já sabem da dificuldade que é prestar serviços para um órgão público sem receber em dia e mediante um valor injusto, que não pagar sequer os custos de uma anestesia, por exemplo.
Só para se ter uma noção, uma anestesia está custando entre R$800,00 a R$1.800,00, dependendo do porte do animal. O que a Prefeitura propõe a pagar, por apenas uma castração, é o valor de R$480,00, valor este que pagaria apenas uma anestesia de baixa qualidade, sem realizar os exames pré-operatórios, o que coloca em risco a vida do animal.
Neste caso, para se cadastrar no programa municipal a fim de atender ao público, uma clínica teria que arcar com os demais gastos: mão de obra, exames, equipamentos e outros. Seria praticamente como trabalhar de graça para a Prefeitura, o que por si só já mostra o absurdo desse programa que o prefeito quer resgatar.
Além de não querer arcar com um valor justo, outro fato que chama a atenção é que a Prefeitura de Boa Vista perdeu o controle completamente da população de cães e gatos. Conforme estimativa do próprio município, são pelo menos 40 mil cães e 8 mil gatos só na Capital, dos quais somente 1% são vacinados nas campanhas lançadas anualmente. É muito pouco para um governo municipal que diz amar os animais.
Soma-se a isso o risco que a população corre ao ser atacado por animais de rua, especialmente o de contrair a raiva, que mata em 100% dos casos. Nos últimos três anos, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde, foram cerca de 8 mil casos de acidentes antirrábicos na Capital, sendo o bairro Senador Hélio Campos, na zona oeste, o que registrou maior número de casos, 901 vítimas de ataques.
Daí a necessidade de a Prefeitura debater com mais seriedade esse problema sanitário, ao invés de tentar repassar a responsabilidade para clínicas e hospitais veterinários que já estão sufocados pelas demandas particulares e ações sociais em parceria com as entidades de acolhimento de cães e gatos.
Sem diálogo esse programa estará fadado a não prosperar, como ocorreu no ano passado. Afinal, a administração anterior nunca gostou de dialogar com a sociedade, muito menos aceitava qualquer opinião partindo inclusive de seus vereadores aliados.
Por isso chegou a hora de a atual administração cortar o cordão umbilical com o que deu errado, no passado, e partir para o entendimento, assumindo a maior parte da responsabilidade, que é de sua competência. Afinal, a questão de cães e gatos nas ruas de Boa Vista está beirando a calamidade pública.
E a Câmara de Vereadores precisa estar atenta também a este grave problema, não só para também tomar providências como cobrar que a Prefeitura aja com maior responsabilidade na questão de controle das zoonoses e da população de cães e gatos.
*Colunista
