Denúncia aponta suposto riscos de mirante desabar, no Parque Rio Branco

O fato é que a Orla Taumanan foi erguida no Berço Histórico de Boa Vista sob denúncias de erros no projeto da obra e desvio de recursos de uma terceira plataforma que nunca chegou a ser concluída, a não ser a fundação das colunas que ficaram submersas nas águas do Rio Branco, em visível desperdício de recursos públicos.

Outro fato é que a nova orla, o Parque do Rio Branco, também começou a ser construída sob um processo judicial de supostas irregularidades na licitação para construção e, depois, de dispensa de licitação para o estudo da fundação do solo, uma vez que a obra está sendo erguida na área do antigo Beiral, que alagava completamente em todo período de inverno.

Com a pressa da então prefeita Teresa Surita (MDB) para apresentar ao público essa  nova orla, em fim de mandato, como maior feito de sua administração, o Parque Rio Branco  acabou sendo inaugurado mesmo com a obra inacabada, às pressas, em dezembro, inclusive com o mirante de 86 metros interditado até hoje por ainda está fechado.

Teresa Surita visitava rotineiramente as obras e inaugurou parque com obras inacabadas (Foto: Divulgação/PMBV)

Diante disso, começou a ser proliferada, nas redes sociais e grupos de WhatsApp, uma grave denúncia de que o mirante do Parque do Rio Branco correria o risco de “tombar devido a erros em sua estrutura”.

É sabido que estamos vivendo um momento de pós-verdade, em que fake news (notícias falsas) acabam se transformando em “verdade” diante da rápida disseminação e de um público ávido por acreditar em qualquer coisa de acordo com suas conveniências políticas e interesses pessoais.

Por isso mesmo que a Prefeitura de Boa Vista tem a obrigação imediata de explicar esta situação do mirante do Parque do Rio Branco. Ou categoricamente desmentir a fim de tranquilizar a todos, no caso de ser apenas um boato proliferado por meio de fake news.

Porque não estaria em jogo apenas milhões em gasto de dinheiro público, mas a vida da população que frequenta e que ainda irá visitar aquela orla quando a pandemia passar. Afinal, também é sabido que o Parque do Rio Branco foi construído às pressas para satisfazer o ego e o interesse político de Teresa e seu grupo.

 

Cinco perigosos precedentes

Quando o Rio Branco baixa, alicerce de pilar da plataforma nunca construída reaparece

Além de tudo o que está ocorrendo, existem ainda cinco vergonhosos precedentes que fazem ligar a luz vermelha. O primeiro deles: o dinheiro que sumiu para a construção da terceira plataforma da Orla Taumanan, avaliado à época em R$2,8 milhões, restando apenas a estrutura dos pilares dessa plataforma, que denuncia a flagrante irregularidade e desperdício de dinheiro público.

O segundo precedente é que um dos pilares construídos para sustentar a orla, que custou R$8 milhões, chegou a desabar quando a obra estava em andamento, conforme relataram operários que trabalharam na obra à época. O caso foi solenemente abafado, inclusive pela imprensa.

No inverno de 2011, plataforma baixa da Orla Taumanan ficou submersa (Foto: Divulgação)

O terceiro precedente é que a plataforma baixa da orla ficou submersa no inverno de 2011, comprovando erro grave e primário no projeto de construção da obra, já que não foi realizado um estudo adequado para prever um inverno rigoroso que poderia alagar aquela plataforma.

Não foi à toa que aquele local, que era chamado de Porto do Cimento, foi escolhido pelos pioneiros para ser o principal porto de embarque e desembarque de pessoas, mantimentos, gado e todo tipo de material que ajudou a construir a cidade e o Estado.

O quarto e assustador precedente foi a ameaça de desabamento da plataforma baixa da Orla Taumanan, depois de alagar no inverno rigoroso. Até hoje aquela plataforma encontra-se interditada para obra de escoramento da estrutura, que custava inicialmente o valor de R$314 mil.

Plataforma que ameaçou desabar está interditada até hoje, sem qualquer explicação

O quinto precedente é também uma estranha coincidência: a empresa responsável por essa obra de recuperação da plataforma que ameaçou desabar é a mesma acusada de ser beneficiada com dispensa de licitação em um serviço de estudo de sola na nova orla Parque do Rio Branco, que vai custar R$134,4 milhões no total (isso sem os costumeiros aditivos).

Se existisse um sexto precedente, seria o absurdo de construir a Orla Taumanan em cima do Porto de Cimento, matando um dos principais (senão o principal) pontos históricos, responsável pelo surgimento não só de Boa Vista, mas pela criação do Estado de Roraima.

Foto histórica mostra como era a orla da cidade, com prédio da Intendência, em primeiro plano, e o porto logo abaixo

Empresas ‘queridinhas’ da Prefeitura

 

Não custa lembrar que o consórcio contratado para construir o Parque do Rio Branco é formado por uma das empresas “queridíssimas” de Teresa Surita e de seu mentor e mestre, o ex-senador Romero Jucá (MDB), a Coema Paisagismo, que paralelamente ganhou licitações para várias outras obras de asfaltamento, calçamento, meio-fio e outros serviços.

Como a Coema foi obrigada a concentrar esforços no Parque Rio Branco, as demais obras não foram concluídas e que precisaram de aditivos para adiar o prazo de conclusão dos serviços, além de aditivos de valores para reajustar o preço devido ao tempo decorrido.

Detalhe: as obras de asfaltamento foram iniciadas pela área central de Boa Vista, em período eleitoral, onde já existia asfalto em boas condições e que necessitariam no máximo de uma operação tapa-buraco. No máximo!

Também não custa lembrar que a Coema pertence ao mesmo proprietário de outra empresa queridíssima de Teresa e Jucá, a Sanepav, cuja renovação de contrato vem ocorrendo desde as primeiras administrações de Teresa, durante 20 anos. Essas duas empresas têm suas sedes localizadas no mesmo edifícil em um condomínio industrial de luxo, em São Paulo.

Juntas, essas duas empresas paulistas já faturaram seguramente R$1 bilhão da Prefeitura de Boa Vista ao longo das duas décadas de mandatos de Teresa e Jucá. Isso mesmo: um bilhão de reais; isso fazendo uma conta por baixo, pois a conta já havia chegado a R$500 milhões levando em conta apenas essas duas últimas administrações.

 

 

Explicações já!

 

Sabemos que o momento é de grande preocupação com a saúde pública devido à pandemia, que está levando muitas vidas nessa segunda onda da doença.

Mas este fato não pode encobrir a grave denúncia que está sendo feita sobre um suposto desmoronamento do mirante do Parque Rio Branco. Já bastam as tragédias que estamos vivendo.

A opinião pública merece notícias que a tranquilizem nesse momento conturbado.

Com a palavra, também, os órgãos de controle…

*Colunista

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